(...) A energia de Agustina cansa, num país de lírios de água e de gente mordida pelo zelo alheio. Por isto, o lugar de Agustina na literatura contemporânea é um lugar incómodo, onde erros e convicções ressoam a dobrar por tratar-se de uma mulher que nunca reivindicou tal estatuto para se disfarçar de vítima ou pretendente ao trono. E, além de incómoda, Agustina é inquietante, com aqueles olhos de doninha esperta onde se concentra uma atenção aos problemas difíceis (...)
Clara Ferreira Alves
in Expresso, 23 / 1 / 88
Existem muitas diferenças entre Duras e Agustina, mas para além de certas coincidências de palavras, que são (...) certamente mais do que meras coincidências, há algo de comum que apetece sublinhar: qualquer delas tende a passar do estatuto de ficcionista para o estatuto de "maître à penser" (embora a expressão seja obviamente inadequada, porque qualquer uma delas habita uma "pensée sans maître") (...) De certo modo, Agustina como Duras são hoje inquestionáveis. Não quer isto dizer que tenham sempre razão, ou até que tenham razão a maior parte das vezes. Nada disso. Significa apenas que o melhor uso de Agustina, aquele que nos traz melhor proveito de inteligência, é o que aceita que este pensamento nos surge como inquestionável, na medida em que tentar pô-lo em questão é certamente a pior forma de o conhecer.
Eduardo Prado Coelho
A Noite do Mundo
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